O hábito do fone de ouvido
Ele nunca tirava os fones de ouvido em público, com muito medo de contrair a doença fatal da conversa fiada. Humanos não faziam sentido para ele; a ideia de trocar gentilezas provocava problemas em seu estômago. Nenhum humano jamais valia a pena perder seus preciosos segundos.
Era um hábito que ele não conseguia se livrar. A ideia de ele ser despojado de sua vida o aterrorizava. Ele passou a odiar o mundo e todos os seus habitantes. As pessoas não passavam de sanguessugas sempre procurando drenar tempo e energia para sobreviver. Os fones de ouvido eram seu escudo contra o mundo exterior, uma barreira que o mantinha a salvo de olhares indiscretos e conversas supérfluas.
Um dia, ele não teve escolha a não ser pegar o trem para chegar até sua mãe. Ele teria que pegar a famigerada linha verde. O pensamento o fez vomitar, só um pouco.
A estação de metrô fedia a suor. O barulho da conversa assaltou todos os seus sentidos. Ele se sentiu preso e sufocado pela multidão de pessoas ao seu redor. Ele tentou abrir caminho pela multidão, desesperado para chegar ao trem e escapar daquele lugar infernal. Portas se fecharam. Enquanto avançava, sentiu alguém passar por ele, seu braço imundo tocando o seu.
Ele recuou horrorizado, sentindo os germes rastejando sobre e sob sua pele. Ele deve ter se protegido deles. Ele olhou em volta freneticamente, procurando uma saída. Mas não havia para onde correr, nenhum lugar para se esconder. As pessoas ao seu redor se fecharam, seus rostos contorcidos em máscaras grotescas de malícia e malevolência.
Ele sentiu uma mão em seu ombro e se virou. Era uma jovem, o rosto contorcido em um sorriso cruel, os olhos perplexos. Seus olhos selvagens com medo.
“Parece que você precisa de ajuda,” ela sussurrou, sua voz cheia de sarcasmo. “Por que você não tira esses fones de ouvido e se junta a nós?”
Ele sentiu uma onda de raiva. Seu coração batia forte no peito. Ele estendeu a mão e agarrou seu coração, mas sua mão o atravessou, como se fosse feito de fumaça. Ele olhou em volta, percebendo que as pessoas ao seu redor não eram mais humanas; seus olhos brilhavam com uma luz sinistra.
Ele tentou correr, mas suas pernas não se moviam. Ele estava preso, cercado por esses ghouls retorcidos. Ele sentiu suas mãos se fechando sobre ele, suas garras rasgando sua carne. Ele gritou em agonia enquanto eles o despedaçavam, pedaço por pedaço. O trem fez questão de abafar seus gritos.
Quando terminaram com ele, deixaram-no caído ali, uma bagunça ensanguentada e quebrada. Os fones de ouvido estavam ao lado dele. Seus fios estavam emaranhados e rasgados, combinando com o que sobrou dele. O mundo ao seu redor havia se tornado um pesadelo, um lugar de escuridão e desespero. Foi assim que ele morreu.
A polícia consideraria isso um ataque cardíaco, causado por estresse, falta de exercícios e má alimentação. Mas você, minha querida testemunha, sempre saberá a verdade - que ele foi levado ao limite pela crueldade e escuridão do mundo ao seu redor.